quarta-feira, 19 de março de 2008

O piercing proibido II


GOVERNO SIMPLIFICA A LÍNGUA

Num país em que "a minha pátria é a língua portuguesa" era inevitável o sobressalto patriota. Aconteceu ontem: fica proibido pôr um piercing na pátria. Comprova-se a vontade em simplificar a língua: depois do acordo ortográfico, tira-se o piercing. A pátria ficou mais coesa: havia portugueses com piercing na língua e portugueses sem piercing na língua - ficou um país de língua única (tirando o mirandês). Quando a lei sair no Boletim, a língua oficial é sem piercing. Tudo porque, parece, um piercing pode matar. Por isso o Governo decidiu perder o latim com o assunto: não quer uma língua morta. Legislou-se, pois, para que haja tento com a língua. Mas se passa a ser proibido, passa a poder ser controlado. Como? Vejo o polícia: "Importa-se de nos mostrar a língua?" É o tipo de caça à multa sem escapatória. Se um cidadão tem piercing, e mostra, multa-se por infringir a nova lei. Se não tem, multa-se por causa da lei antiga: mostrar a língua à autoridade é desrespeito.

Ferreira Fernandes, in Diário de Notícias

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