sábado, 20 de setembro de 2008

Pedro Hispano - João XXI, o Papa Português

Pedro Julião, também conhecido como Pedro Hispano, nasceu em data desconhecida, antes de 1226 e faleceu em 20 de Maio de 1277. Foi coroado Papa a 20 de Setembro de 1276, há precisamente 732 anos. Foi também um famoso médico, professor e matemático português do Século XIII.

Pedro Hispano, nasce em Lisboa, muito provavelmente na área da actual freguesia de São Julião, em data não determinada exactamente, mas antes de 1226. É filho de Julião Rebelo, médico, cuja profissão segue, e de Teresa Gil.
Estudou na Escola Episcopal de Lisboa, tendo mais tarde cursado na Universidade de Paris ou Universidade de Montpellier (não está bem definido) com mestres notáveis, como São Alberto Magno, e tendo por amigos e colegas São Tomás de Aquino e São Boaventura.
Estuda medicina e teologia, dialética, lógica e principalmente a física e metafísica de Aristóteles.
Entre 1246 e 1252 ensinou medicina na Universidade de Siena, onde escreveu algumas obras, de entre as quais se destaca o Tratado Summulæ Logicales que foi o manual de referência sobre lógica aristotélica durante mais de trezentos anos, nas universidades europeias, com 260 edições em toda a Europa, traduzido para grego e hebraico.
A sua obra científica De oculo, um tratado de Oftalmologia, tem ampla difusão nas universidades europeias.
Diz-se que quando Miguel Ângelo adoeceu gravemente dos olhos, devido ao muito trabalho na decoração da Capela Sistina, encontrou remédio numa receita de Pedro Hispano.
Também escreveu, o ‘Thesaurus Pauperum’ (Tesouro dos pobres), em que descreve várias doenças e os seus tratamentos, com cerca de uma centena de edições e que foi traduzido para 12 línguas.
Antes de 1261, ano em que é eleito decano da Sé de Lisboa, Pedro Hispano torna-se sacerdote.
Afonso III de Portugal coloca-o como prior da Igreja de Santo André (Mafra) em 1263, e logo a seguir é nomeado para cónego e deão da Sé de Lisboa, Tesoureiro-mor na Sé do Porto e Dom Prior na Colegiada Real de Santa Maria de Guimarães.
Em 1273 Pedro Hispano foi nomeado Arcebispo de Braga pelo Papa Gregório X.
No ano seguinte, participa no XIV Concílio Ecuménico de Lião, onde Gregório X o nomeia Cardeal-Bispo com o título de Tusculum-Frascati, da Diocese suburbicária de Frascati. Isto permitia a Gregório X poder contar com os serviços médicos do português.
Pouco depois Pedro Hispano regressa a Portugal, ao Arcebispado de Braga. Mas por pouco tempo. Volta à corte pontifícia e Gregório X nomeia-o seu médico principal em 1275.
A eleição de Pedro Julião (Pedro Hispano), em conclave realizado em Viterbo, tem lugar a 13 de Setembro e coroado a 20 de Setembro de 1276, e adopta o nome de João XXI.

João XXI irá ver o seu breve pontificado (de pouco mais de 8 meses) caracterizado por vários insucessos. Esforça-se por libertar a Terra Santa em poder dos Turcos, que não consegue ver. Tenta reconciliar grandes nações europeias, como França, Alemanha e Castela, dentro do espírito da unidade cristã. Sem sucesso.
Porém, dotado de grande simplicidade, recebe em audiência tanto os ricos como os pobres.
Dante, na Divina Comédia, coloca a alma de João XXI no Paraíso, entre as almas que rodeiam a alma de São Boaventura, apelidando-o de “aquele que brilha em doze livros”, menção clara a doze tratados escritos pelo erudito pontífice português.
O rei aragonês Afonso X de Leão e Castela, o Sábio, pai de Santa Isabel, esposa de D. Dinis de Portugal, elogia-o em forma de canção no "Paraíso".
Mais interessado no estudo que nas tarefas pontifícias, João XXI delega no Cardeal Orsini, o futuro Papa Nicolau III, os assuntos correntes da Sé Apostólica.
Sentindo-se doente, afasta-se para a cidade de Viterbo, a norte de Roma, onde morre a 20 de Maio de 1277, com 51 anos, soterrado pelo desmoronamento das paredes do seu aposento, quando o palácio apostólico estava em obras.
Foi sepultado junto do altar-mor da Catedral de São Lourenço, naquela cidade.
No século XVI, durante os trabalhos de reconstrução do templo, os seus restos mortais foram trasladados para um modesto
túmulo.
Só após o esforço da Câmara Municipal de Lisboa, através de João Soares então seu presidente, o mausoléu foi colocado, a título definitivo, ao lado do Evangelho da Catedral de Viterbo, a 28 de Março de 2000.

Nota final:
Durante a pesquisa para este artigo encontrei uma referência a outro Papa, de nome Dâmaso I, que teria nascido em Guimarães ou Idanha-a-Velha no ano de 305, e que teria sido Sumo Pontífice entre 366 e 384. Assim sendo, embora Portugal não existisse como país nessa altura, e se ele realmente nasceu em Guimarães, é de considerá-lo como português. Um assunto a aprofundar pelos historiadores.

4 comentários:

  1. Desconhecia essa hipótese apresentada na nota final. Num país maioritariamente católico, seria natural a existência, ao longo dos séculos, de mais do que um papa...
    Bjo,

    Milouska

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  2. Dentro da minha santíssima ignorância desconhecia a existência de um Papa originário do idioma português. Ja deveria, mas agora sei.

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  3. Pois é Joselito. Eu também que provavelmente existem dois. Mas vou pesquisar.
    Um abraço e obrigado pela visita e comentário.

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  4. Bom dia, respeitoso senhor autor! Chamo-me Kirill, sou russo. Podia dizer-me de onde você encontou a informacia de pais de Pedro Julião?Gostaria de saber da origem deles fossem eles nobres ou plebeus? E pode você indicar o livro e a pagina, se faz favor? Muito obrigado de antemão.

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