quarta-feira, 28 de maio de 2008

1922 - 28 de Maio


O dia 28 de Maio é data rica em acontecimentos do século XX.
Desde logo vem-nos à memória a Revolução de 1926 que nos mergulhou na ditadura de que só nos livrámos em 25 de Abril de 1974.
Mas há mais:
Em 1964 forma-se a Organização de Libertação da Palestina, de Arafat. Em 1982 as forças britânicas derrotam os argentinos na batalha de Goose Green (Guerra das Falklands) dando um poderoso golpe no prestígio da ditadura militar daquele país. Em 1979 a Grécia adere formalmente à União Europeia.

Em 1922, nasce na cidade de Lourenço Marques (hoje Maputo), em Moçambique, aquele que viria a ser uma das maiores figuras da literatura moçambicana: José Craveirinha.

«Nasci a primeira vez em 28 de Maio de 1922. Isto num domingo. Chamaram-me Sontinho, diminutivo de Sonto[1]. Isto por parte da minha mãe, claro. Por parte do meu pai, fiquei José. Aonde? Na Av. Do Zihlahla, entre o Alto Maé e como quem vai para o Xipamanine. Bairros de quem? Bairros de pobres.
Nasci a segunda vez quando me fizeram descobrir que era mulato...
A seguir, fui nascendo à medida das circunstâncias impostas pelos outros.
Quando o meu pai foi de vez, tive outro pai: seu irmão.
E a partir de cada nascimento, eu tinha a felicidade de ver um problema a menos e um dilema a mais. Por isso, muito cedo, a terrra natal em termos de Pátria e de opção. Quando a minha mãe foi de vez, outra mãe: Moçambique.
A opção por causa do meu pai branco e da minha mãe preta.
Nasci ainda outra vez no jornal O Brado Africano. No mesmo em que também nasceram Rui de Noronha e Noémia de Sousa.
Muito desporto marcou-me o corpo e o espírito. Esforço, competição, vitória e derrota, sacrifício até à exaustão. Temperado por tudo isso.
Talvez por causa do meu pai, mais agnóstico do que ateu. Talvez por causa do meu pai, encontrando no Amor a sublimação de tudo. Mesmo da Pátria. Ou antes: principalmente da Pátria. Por parte de minha mãe, só resignação.
Uma luta incessante comigo próprio. Autodidacta.
Minha grande aventura: ser pai. Depois, eu casado. Mas casado quando quis. E como quis.
Escrever poemas, o meu refúgio, o meu País também. Uma necessidade angustiosa e urgente de ser cidadão desse País, muitas vezes, altas horas a noite.»

Prémio Cidade de Lourenço Marques (1959)
Prémio Reinaldo Ferreira do Centro de Arte e Cultura da Beira (1961)
Prémio de Ensaio do Centro de Arte e Cultura da Beira (1961)
Prémio Alexandre Dáskalos da Casa dos Estudantes do Império, Lisboa, Portugal (1962)
Prémio Nacional de Poesia de Itália (1975)
Prémio Lotus da Associação de Escritores Afro-Asiáticos (1983)
Medalha Nachingwea do Governo de Moçambique (1985)
Medalha de Mérito da Secretaria de Estado da Cultura de S. Paulo, Brasil (1987)
Prémio Camões (1991)

Chigubo. Lisboa, Casa dos Estudantes do Império, 1964. 2.ª ed. Maputo, Instituto Nacional do Livro e do Disco, 1980
Cantico a un dio di Catrame (bilingue português/italiano). Milão, Lerici, 1966 (trad. e prefácio Joyce Lussu)
Karingana ua karingana. Lourenço Marques, Académica, 1974. 2.ª ed., Maputo, Instituto Nacional do Livro e do Disco, 1982
Cela 1. Maputo, Instituto Nacional do Livro e do Disco, 1980
Maria. Lisboa, África Literatura Arte e Cultura, 1988
Izbranoe. Moscovo, Molodoya Gvardiya, 1984 (em língua russa)

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