domingo, 9 de novembro de 2008

A luta dos professores continua




Em 8 de Março passado, 100 mil professores manifestaram-se, descontentes com as condições de trabalho que o Governo lhes quer impor, nomeadamente o Estatuto da Carreira Docente. Já aqui escrevi vários artigos sobre esse assunto.

Ontem assisti, em Lisboa, à segunda Manifestação dos Professores. Digo-vos que fiquei impressionado.
Os Sindicatos falam de 120 mil manifestantes e não me custa a crer que fosse mesmo esse número. Isto se pensarmos, para quem conhece Lisboa, que quando a frente da manifestação estava a chegar ao largo do Marquês de Pombal, ainda havia gente no Terreiro do Paço a querer entrar na Rua do Ouro.

Em Março, o número de 100 mil foi adiantado rapidamente pela Polícia de Segurança Pública e, pelo maior número de autocarros que chegaram a Lisboa, desta vez foram muitos mais.
Curiosamente o Comandante da força de Polícia, agora, "nem abriu o bico", ou melhor, disse "é impossível calcular dada a dimensão da manifestação", e acrescentou: "tenho indicações para não adiantar números". Elucidativo !!!

Numa classe com, segundo dizem, 140 a 145 mil docentes, a percentagem dos que manifestaram ontem o seu descontentamento (mais de 80% de uma só classe profissional) faria qualquer Governo inteligente parar e repensar o caminho traçado.
Mas a Ministra de José Sócrates, apressou-se a vir dizer que não vai ceder, nem desistir do rumo que traçou.

Algo vai mal com esta senhora.

O seu autismo, eu diria patológico, que se estende ao Primeiro Ministro, não augura nada de bom para o Partido Socialista, em ano de eleições.

O Primeiro Ministro José Sócrates terá que falar aos portugueses, terá que lhes explicar, com verdade e claramente, o que se passa. O porquê deste descontentamento, o porquê da manutenção da Ministra da Educação, o porquê do facto de deixar desmoronar o Partido do Governo, fazendo-o desabar para o abismo político.
E isto porque não restam dúvidas que não está a perder somente 120 mil votos, mas muitos mais. Os dos professores, os dos familiares, os dos amigos e os dos pais em geral, que já se aperceberam que este clima prejudica, em última análise, os seus próprios filhos.

Avé Sócrates !!


13 comentários:

  1. Jorge,
    Eu sabia que a crise na educação era mundial, mas não tinha conhecimento de que Portugal passava por uma situação crítica que, em alguns aspectos, se assemelha à do Brasil.
    Na semana passada, por exemplo, familiares de um aluno adentrou uma escola de São Paulo e agrediu dois professores. Ontem, aqui na Bahia, um professor de faculdade foi agredido dentro da sala de aula pelo próprio aluno, simplesmente porque este tirou nota baixa.
    Não sei onde isso irá parar, só sei que não será em um lugar nada bom, pois um país que não valoriza a educação será uma nação fadada ao absoluto fracasso.
    Abraços e bom domingo.

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  2. Gostei muito deste artigo, pois reflecte a gravidade do que se passa na educação deste país e por vir de uma pessoa que nada tem a ver com a profissão docente. Como dizes, 120000 professores em Lx deveria fazer pensar qualquer um. Segundo MLR, somos, afinal, 120000 "medrosos" e "chantagistas" a soldo de sindicatos mais ou menos comunistas e a linha política traçada paa o sector não é para ser alterada.
    O que menos importa, é que o PS e o 1ºM estejam a dar "tiros nos pés", quando as eleições estão aí tão próximas. O que verdadeiramente deve preocupar TODOS é o estado da (des)educação que o PS vai legar e que dificilmente poderá ser recuperado. É o PAÍS que perderá!!!
    Sou professora, com 32 anos de carreira e nunca como de há 3 anos para cá, a escola e os seus docentes foram tão enxovalhados, humilhados e desprestigiados pela Tutela. Haja um mínimo de decência!
    E porque já não tenho idade nem pachorra para aturar tanta estupidez encapotada de "coragem"( que eu chamo tão só de INCOMPETÊNCIA) da parte de governantes ignorantes, também eu decidi engrossar a fileira dos que pedem a reforma precocemente, ainda que com pesadas perdas monetárias. O dinheiro não paga tudo!...
    Um bjo e algumas desculpas por me ter alongado tanto,

    Milouska

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  3. Tenho algumas dúvidas quanto às reais motivações dos professores. Mas estas manifestações querem dizer inequivocamente que isto não pode continuar e que o Governo tem de vir a jogo. O país e os alunos não podem pagar este desconcerto.

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  4. Um bom domingo a todos e todas!

    Amigo Jorge, como disse num comentário para o Joselito e mais alguns, aqui é bom porque se têm muito conhecimento. Tipo esse de Portugal. Me fez sentir feliz (por eles que sõa uma classe bem unida. Imagina, 80% dos professores na manifestação!) e um pouco depressiva, porque em meu estado, Goiás, houve uma greve e depois de 2 meses, os professores voltaram às salas sem nenhuma proposta das que estavam pedindo aprovadas. A greve foi ápenas um desgaste para todos - professores, pais, alunos.
    Professores recebiam ameaças verbais do governo, a em muitas manifestações, o número de professores que vão às ruas é muito pequeno. Isso que me deixa depressiva. Porque não há unanimidade. Aderem, mas ficam em casa, com medo. É uma situação lamentávelm, essa da NÃO VALORIZAÇÃO pelos governantes aos professores. Dá no que dá. Alunos com falata de desrespeito, professores insatisfeitos (estressados, as vezes descontrola sim).
    Que Deus ilumine a todos nós, professores e professoras, com SABEDORIA, INTELIGÊNCIA, CONSELHO, CIÊNCIA,FORTALEZA, TEMOR,PIEDADE.


    Parabéns pelo texto, abraço.

    Lena.

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  5. A "LINHA É PARA CONTINUAR !" .
    Até onde ? Já estamos no precipício !
    A estória começou com um FAX DOMINICAL ! Estava visto no que ia dar...
    Gostamos de demagogos, é o que é.
    Depois, queixamo-nos e gritamos : Oh, da guarda !!!

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  6. Jorge,
    As eleições devem ser a contemplação desse ato,pois assim passarão á ouvir as vozes de protesto,parabéns pela manifestação.
    um forte abraço e um otimo domingo.

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  7. Enquanto isso, vamos faltando ao serviço pelo menos uma vez na semana.

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  8. A todos os que comentaram, aqui deixo os meus agradecimentos pela visita e comentários. Desculpem-me mas vou responder individualmente ao expressodalinha.

    expressodalinha

    Olá Jorge (creio que temos o mesmo nome)
    Estou inteiramente de acordo consigo. Isto não pode continuar.

    Relativamente às motivações dos professores, o que passou para a opinião pública foi: os professores não querem ser avaliados. E isso foi um erro crasso de uma parte ou uma manobra bem sucedida de outra ?
    Provavelmente alguns não quererão ser avaliados. O que é de esperar num universo de 145 mil pessoas ?
    Mas sempre lhe conto o que se passa cá por casa:
    Minha mulher é licenciada em Germânicas pela Faculdade de Letras de Coimbra e sempre foi professora. Lecciona Inglês e Português. Está no topo da Carreira (vai pedir a reforma em Janeiro). É Professora Titular (uma das novas categorias que este Governo criou). É professora avaliadora e esteve na manifestação.
    Por força da Lei, terá que avaliar os seus colegas do mega-departamento de línguas.
    Entre os que ela terá que avaliar existem uma professora de espanhol e outra de francês. Minha mulher vai ter que, para cumprir a Lei, avaliá-las, entre outros itens, na vertente científica, quando ela própria não tem habilitações para leccionar nem o Espanhol nem o Francês, como é óbvio.
    Noutro departamento um professor de Educação Física tem que avaliar, do ponto de vista científico e no campo das estratégias de ensino, professores de música e de desenho. Ele que nem sabe o que é uma clave ou uma colcheia...

    Se há classe em que a avaliação é bem dura, cheia de concursos de provas públicas, práticas e eliminatórias é a minha. O que eu não conseguiria conceber é que, sendo ortopedista, algumas vez tivesse que ser avaliado ou avaliar um colega ginecologista ou um psiquiatra.

    O que eu lhe posso dizer, meu Amigo, é que isto aqui em casa anda um desatino com grelhas, objectivos, reuniões atrás de reuniões e mal chega o tempo para preparar a aulas, para fazer os testes e para os corrigir.

    Uma coisa é inegável: os putos são os maiores prejudicados com o que está a acontecer.

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  9. JORGE,

    "Ele" não saberá ler ?

    Só pavonear ?

    Ab.

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  10. Não tenho dúvidas quanto ao que me diz e considero um disparate o que estáa ser feito na componente "burocrática" da avaliação. O estranho é que mesmo tendo um PM teimoso, não se percebam estes inconvenientes. Admita que para quem está de fora, sem relações com professores e sem putos no ensino, tudo isto é, no mínimo, grotesco. Não dá para entender!

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  11. Se esta senhora não arreda o pé de sua posição, e o governo a apoia sem o medo de perder o apoio popular, é porque diferentemente dos professores, eles estão olhando o bem maior da categoria no futuro.

    O que complica nos governos, é a incapacidade que eles tem de venderem as boas e também as más idéias.

    Por outro lado, vejo que tanto aqui como ai, a situação não é muito diferente. Isto me leva ao fortalecimento de minhas idéias de conspiração.

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  12. Não dá mais para aceitar o descaso do poder público com a educação e com os profissionais que atuam na rede pública de ensino.Nos professores somos uma classe forte, se nos mantivermos unidos, somos formadores de opinião, e o que temos feito para melhorar a educação???
    Nos dedicarmos ao máximo não tem resolvido,pois nos professores estamos nadando contra a correnteza, pois o estado não dá o suporte necessário para que nos professores alcancemos resultados mais significativo.Nunca a educação neste país foi tratada com seriedade, e quando isto irá mudar???Pois eu tenho a resposta...o dia em que todos nos estivermos unidos, e lutando por uma educação de qualidade, a mudança depende de nós...temos que fazer valer o nossa voz!!!
    http://professormotaneto.blogspot.com/

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