sábado, 22 de novembro de 2008

Rosa Ramalho - Uma artesã portuguesa


Rosa Ramalho (1888-1977) é o nome artístico de Rosa Barbosa Lopes, barrista e figura emblemática da olaria tradicional portuguesa.
Rosa Ramalho nasceu a 14 de Agosto de 1888 na freguesia de Santa Maria de Galegos (concelho de Barcelos). Filha de um sapateiro e de uma tecedeira, casou-se aos 18 anos com um moleiro e teve sete filhos.
Aprendeu a trabalhar o barro desde muito nova, mas interrompeu a actividade durante cerca de 50 anos para cuidar da família. Só após a morte do marido, e já com 68 anos de idade, retomou o trabalho com o barro e começou a criar as figuras que a tornaram famosa.
Enquadrada na tentativa de propaganda do Estado Novo, premiada no pós-25 de Abril, foi admirada por artistas, políticos, actores e personalidades dos mais diversos quadrantes.
As suas peças simultaneamente dramáticas e fantasistas, denotadoras de uma imaginação prodigiosa, distinguiam-na de outros barristas e oleiros e proporcionaram-lhe uma fama que ultrapassou fronteiras.
Foi a António Quadros que se deveu a descoberta de Rosa Ramalho pela crítica artística e a sua divulgação nos meios ditos "cultos".
A sua fama ultrapassa as feiras de Barcelos e chega ao Porto. Primeiro com a divulgação efectuada por António Quadros e em seguida, numa exposição colectiva organizada na Galeria Alvarez, do Porto, em 1956.
Desde então, grupos de estudantes dirigiam-se, às quintas-feiras, a Barcelos para visitarem a ceramista que não sabia sequer assinar o seu nome nas peças.
Foi a primeira barrista a ser conhecida individualmente pelo próprio nome e teve o reconhecimento, entre outros, da Presidência da República, que em 9 de Junho de 1980 lhe atribuiu o grau de Dama da Ordem Militar de S. Tiago de Espada.
Em 1968 tinha-lhe sido também entregue a medalha "As Artes ao Serviço da Nação".
Sobre a artista há um livro de Mário Cláudio (Rosa, de 1988, integrado na Trilogia da mão) e uma curta-metragem documental de Nuno Paulo Bouça (À volta de Rosa Ramalho, de 1996).
Actualmente dá nome a uma rua da cidade de Barcelos e a uma escola EB 2,3 da freguesia de Barcelinhos.
Há também a possibilidade de que se venha a transformar a sua antiga oficina, na freguesia de Galegos São Martinho, onde está sepultada e sempre viveu, num museu de olaria com o seu nome. O seu trabalho é continuado actualmente pela neta Júlia Ramalho.

Segundo Júlia Ramalho, neta Rosa Ramalho, “a minha avó dizia que via demónios e contava-me histórias de feiticeiras e eu acreditava em tudo”.
É assim que se recorda desta personagem que marcou a cena artística portuguesa entre o final da década de 50 até ao seu falecimento, em 1977.

Para Júlia Ramalho, os visitantes faziam parte do dia-dia e mesmo quando o Estado Novo tentou aglutinar a obra da sua avó como instrumento de propaganda, manteve a sua autonomia. Eram muitas as personalidades que faziam a vilegiatura até Galegos: ”O Dr. Salazar só vimos uma vez no Museu de Arte Popular, mas o Américo Thomaz passou uma vez por aqui, o povo reuniu-se para ver a comitiva, a minha avó estava a assistir, ele viu-a e mandou parar o carro só para cumprimentá-la. A minha avó tratava-o tu cá tu lá.”
Os artistas chegavam sempre nos dias de folga e ficavam o dia todo, como Raul Solnado, Eunice Muñoz, José Viana. A Amália aparecia regularmente: “Uma vez veio fazer um filme na casa da minha avó, chegou de madrugada com várias pessoas. A minha avó ia cedo para a cama, mas lá abriu a porta e foi arranjar pão em Barcelos para matarem a fome”, recorda Júlia Ramalho.
As idas a Lisboa são frequentes, para participar nas feiras de artesanato onde recebe estímulos e carinho de um público diversificado. Mas a ceramista tem a idade avançada. Em Dezembro de 1977 uma hérnia que tinha piorou. e acabou por falecer.
“Viveu muito pobre e trabalhou até morrer”, resume Júlia Ramalho.

Esculturas de Rosa Ramalho


22 comentários:

  1. JORGE

    Vou já imprimir este magnífico texto que recorda a Rosa Ramalho !
    Como colecciono Cristos (de dependurar na parede), dela tenho três. Um irmão meu (mais velho) tem várias peças diferentes (Diabos, claro).
    Da neta, além de Cristos, tenho um S.João Baptista ( que também colecciono), bem grande.
    Uma filha da Júlia está já nesta arte.
    Justa e de louvar esta sua homenagem a tão grande e pura artesã.
    Fiquei muito contente, acredite.

    ResponderEliminar
  2. Caro Jorge
    Também gosto muito desta Postagem sobre a grande Rosa Ramalho.
    A sdua Obra já reconhecida enquanto viva, subiu muito de cotação depois da sua morte.
    Pena é que segunda a sua neta, tenha vivido e morrido POBRE.
    Obrigado
    Gostei muito
    Abç
    G.J.

    ResponderEliminar
  3. JORGE: Por não conseguir entrar nos comentários da MILOUSKA, peço o favor que lhe transmita :

    Também eu...e sou de longe !

    Postagem de grande categoria, com muito nível, sob todos os aspectos.
    Parabéns, Milouska.
    Um bj.

    ResponderEliminar
  4. Estas esculturas são fabulosas. Quando tive uma loja de artesanato, nos idos de 70, ainda vendi algumas. Estupidamente fiquei sem nenhuma. Excelente post e informação.

    ResponderEliminar
  5. Parabens, Jorge. São muito interessantes esses textos de divulgação de artistas portugueses.
    Abraços

    ResponderEliminar
  6. que bom ter acesso e conhecer mais sobre artistas portugueses! parabèns, um abraço

    ResponderEliminar
  7. Sou sobrinho-neto de Rosa Ramalho e vivo no Rio de Janeiro, Brasil. Meu avô paterno Casimiro Barbosa Lopes (seu irmão) emigrou para o Brasil em 1927. Gostaria de entrar em contato com Julia e com sua filha, ou seja, minhas primas. Meu msn é: exordio1@hotmail.com

    Desde já agradeço

    ResponderEliminar
  8. gostaria de entrar em contacto com julia ramalho para uma entrevista mas gostaria de contactos meu email adelinosilva.silva66@gmail.com boa tarde obrigada

    ResponderEliminar
  9. Bons Dias, Sou bisneto da Rosa Ramalho e sobrinho da Julia e primo do Tone :-), que continua a dar vida á imaginacao da cultura humana mundial. Eu Tinha 7 anos quando a RR morre. Nao me lembro muito bem, mas lembro-me de ela me ajudar a espetar batatas num espeto, para eu poder assar na boca dum forno gigantesco de tijolos vermelhos, que fumegava e deitava lume como uma locomutiva. Principalmente no inverno era bastante acolhedor, com os meus primos e o meu Tio Manel, que ou cantava ou contava histórias de fantasmas e seres inexistentes que me assustavam de tal maneira que eu já nao ia á fossa nem que me paguassem. Faz já alguns anos que busco na net coisas sobre A Rosa e a Júlia, que para dizer a verdade é uma das pessoas mais engracadas que conheco e nao é por ser minha Tia :-). Fico feliz por saber que ainda há tanto interesse sobre o trabalho da minha família. Abracos e boa sorte a todos

    ResponderEliminar
  10. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  11. Caro Jorge C. Reis, é um enorme orgulho, para mim e certamente para todos os naturais da freguesia de Galegos S. Martinho, conterrâneos da tão famosa Artesã, Rosa Ramalho, saber que há pessoas como o Jorge que dedicam parte do seu tempo em prol da cultura danda oportunidade a todos os que pesquisam acerca de Rosa Ramalho. No entanto, não posso deixar de fazer uma crítica, neste dia em que se comemora o 35º aniversário do seu falecimento, data que recordo todos os anos, pois assisti à sua morte, bem como aos seus últimos dias de vida, para corrigir um erro, não só do seu blogue como da notícia saída hoje no JN e da própria informação da Wikipédia, em que todos referem que Rosa Ramalho é natural de Galegos Santa Maria. Não é verdade, mas esta tem que ser reposta. Rosa Ramalho, nasceu, viveu e morreu em GALEGOS S. MARTINHO, onde se encontra sepultada. Por tal gostaria que não visse este comentário como um desafio mas apenas para que alguém comece por colocar a informação fidedigna.

    ResponderEliminar
  12. Alguem aqui e colecionador de rosa ramalho e que eu estou a vender uma peça de museu verdadeira muito valiosa por um preço justo se me quiserem contactar vao a este link: http://www.custojusto.pt/Lisboa/Moveis-Decoracao/Artesnato+Rosa+Ramalho-6473525.htm

    ResponderEliminar
  13. http://portosalvo.olx.pt/artesanato-rosa-ramalho-iid-433171806

    ResponderEliminar
  14. Aos amigos deixo uma entrevista radiofônica com a Rosa Ramalho:

    http://www.youtube.com/watch?v=1UZ51856OuI

    ResponderEliminar
  15. Aos amigos deixo uma entrevista radiofônica com a Rosa Ramalho:

    http://www.youtube.com/watch?v=1UZ51856OuI

    ResponderEliminar
  16. Aos amigos deixo uma entrevista radiofônica com a Rosa Ramalho:

    http://www.youtube.com/watch?v=1UZ51856OuI

    ResponderEliminar
  17. Aos amigos deixo uma entrevista radiofônica com a Rosa Ramalho:

    http://www.youtube.com/watch?v=1UZ51856OuI

    ResponderEliminar
  18. Aos amigos deixo uma entrevista radiofônica com a Rosa Ramalho:

    http://www.youtube.com/watch?v=1UZ51856OuI

    ResponderEliminar
  19. tenho uma escultura de rosa ramalho para venda, é um cristo de 40 cm de altura, guardado em ambiente protegido e como tal em mto bom estado

    ResponderEliminar
  20. Parabéns por este blog:-Rosa Ramalho merece isto e muito mais e é pena que a sua obra não seja mais divulgada.Há uns 40 anos atrás comprei uma série de peças desta artesã.Neste momento,não tenho espaço para as colocar e tenho-as empacotadas há uma série de anos,daí que as tenha colocado à venda no OLX.Se houver alguém interessado na sua aquisição,favôr consultar OLX,venda por junto ou peças separadas.Continuação de bom trabalho neste blog.Grata.

    ResponderEliminar