sábado, 23 de agosto de 2008

O sexo quente & O truca-truca


Sou um admirador de Francisco Moita Flores que, embora de ideias que não são politicamente as minhas, tenho que reconhecer pessoa de grande valor, quer como autarca, escritor, guionista.
Há dias li uma crónica sua no Correio da Manhã online de que transcrevo os dois primeiros parágrafos.

O sexo quente
“Não creio que a classe política não goste de sexo. Até deve gostar. E de várias maneiras”.

Alberto Martins (líder da bancada parlamentar do Partido Socialista) e Manuela Ferreira Leite (actual líder do Partido Social Democrata) ganharam, por direito próprio, chamadas de primeira página por incursões em territórios que, de modo geral, os políticos não frequentam: sexo. Alberto veio vincar a necessidade de a Assembleia da República reflectir sobre o casamento entre homossexuais. Manuela produziu uma pérola: casamento é coisa feita para a procriação. Quem quer procriar tem o direito a casar-se, quem não quer dedicar-se à reprodução vá dar uma curva. É evidente que nem Alberto deixa de dormir por causa dos casamentos entre homossexuais e Manuela é capaz de ser um pouco mais aberta.
Devemos admitir que ambos os políticos procuram agarrar um tema que não lhes é querido. Não é apenas a Igreja que tem tido dificuldade em se desenvencilhar dos preconceitos; a política encara a coisa sempre pela rama. Basta regressar à galeria de discursos falsamente morais durante a campanha sobre o referendo do aborto para se constatar aquilo que estamos a dizer. Sendo um casamento um contrato ditado pela paixão, não vejo qualquer razão para que duas pessoas apaixonadas não possam casar-se. Mas também não vejo razão para que a paixão obrigatoriamente seja coroada pelo casamento. (in Correio da Manhã)

Esta discussão lembra-me uma outra mais antiga. A História repete-se ? Talvez... Se não vejamos:

Já em 1982 se discutia na Assembleia da República o aborto e a Lei sobre Interrupção Voluntária da Gravidez.
O Deputado João Morgado, deputado do CDS, veio então defender aquilo a que eu chamo o "obscurantismo da direita conservadora", com a afirmação de que:

"O acto sexual é para ter filhos!"

Natália Correia, deputada independente, respondeu ao colega com um poema que distribuiu nas bancadas do Parlamento:

O Truca Truca

Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,

preciso e imaculado

fazer menina ou menino;

e cada vez que o varão

sexual petisco manduca,

temos na procriação

prova de que houve truca-truca.

Sendo pai só de um rebento,

lógica é a conclusão

de que o viril instrumento

só usou - parca ração! -

uma vez. E se a função

faz o orgão - diz o ditado -

consumada essa excepção,

ficou capado o Morgado.


Natália de Oliveira Correia (Fajã de Baixo, São Miguel, 13 de Setembro de 1923 — Lisboa, 16 de Março de 1993) foi uma intelectual e activista social de origem açoriana, autora de extensa e variada obra publicada, com predominância para a poesia. Deputada à Assembleia da República (1980-1991), interveio politicamente ao nível da cultura e do património, na defesa dos direitos humanos e dos direitos das mulheres. Autora da letra do Hino dos Açores. Juntamente com José Saramago (Prémio Nobel de Literatura, 1998), Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC).
A obra de Natália Correia estende-se por géneros variados, desde a poesia ao romance, teatro e ensaio. Colaborou com frequência em diversas publicações portuguesas e estrangeiras. Foi uma figura central das tertúlias que reuniam em Lisboa nomes centrais da cultura e da literatura portuguesas nas décadas de 1950 e 1960. Ficou conhecida pela sua personalidade livre de convenções sociais, vigorosa e polémica, que se reflecte na sua escrita. A sua obra está traduzida em várias línguas. (Fonte Wikipédia)

7 comentários:

  1. Moita Flores é 1 cronista (para além de outros atributos) de mão cheia.
    Artigo interessante. Gostei!
    Bj
    Milouska

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  2. Acho este poema da Natália Correia divino, e a crónica do Moita Flores muito interessante.
    Parabéns pela tua escolha.
    Quanto à Manuela Ferreira Leite não tem cara de quem gosta de sexo...

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  3. Que lindo poema da Natália!
    Abraçoss
    Voltarei sempre!!

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  4. Olá!

    Muito bem escolhido, este tema de Moita Flores, de que também sou fã.
    A Natália Correia, sempre oportuna nas suas intervenções. Quem não se lembra da deputada irreverente na Assembleia da República? este poema é bem o reflexo da grande escritora e poetisa que foi Natália Correia.

    Bjs

    Safira

    PS: Ainda estou por cá.:)

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Olá não conheço esse escritor,será que encontro um exemplar no Brasil?de qualquer maneira não deiche de passar no www.sondnews.blogspot.com

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  7. Políticas à parte (não tenho por hábito misturar fés clubistas ou preferências políticas nos meus comentários para não ferir susceptibilidades seja de quem fôr), quero agradecer ao Jorge a oportunidade que me deu. Não conhecia este "O TRUCA TRUCA" da Natália.

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