sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Sabia que há meio-século Michael Phelps teria de partilhar uma das suas medalhas?

"PAM! Quatro pares de narinas nem têm tempo de sentir o cheiro a pólvora seca no ar antes de serem bruscamente invadidas por uma torrente de água salgada. Quatro pares de braços rasgam uma barreira líquida e empurram-na com toda a força para trás. Quatro pares de ouvidos vão captando os gritos de incentivo da multidão nas bancadas entre cada braçada nas águas do Mar Báltico.

CORRIDA PARA A VITÓRIA


É sábado, 6 de Julho de 1912, o auge da quinta edição dos Jogos Olímpicos, na Suécia. Perante várias centenas de espectadores, decorre neste preciso instante a sétima série das eliminatórias dos 100 metros livres de natação. Quatro atletas competem pela passagem aos quartos-de-final, mas as atenções centram-se em apenas dois: o sueco Harald Julin e o italiano Mario Massa, que nadam praticamente a par. A chegada está cada vez mais próxima, os dois dão o último esforço, esticam os braços... e eis que o relógio marca 1 minuto, 11 segundos e 8 décimos para ambos. Julin e Massa, exultantes, passam excepcionalmente à fase seguinte da competição.


Nestas Olimpíadas de 1912, o Comité Olímpico Internacional orgulhava-se do rigor da medição dos tempos das provas. Os relógios eléctricos semi-automáticos e as primeiras versões do photo finish eram as grandes novidades tecnológicas dos Jogos, mas o empate de Julin e Massa comprovou imediatamente que o décimo de segundo tinha os dias contados como elemento decisivo da vitória. Oito anos depois, nas Olimpíadas de Antuérpia, na Bélgica, o cronómetro de quartzo já possibilitava a marcação de tempos ao centésimo de segundo em caso de desempate. Em 1948, na Suíça, a célula fotoeléctrica ajudava a aprimorar ainda mais o momento da chegada. Mas, para a natação, a verdadeira precisão só foi alcançada em 1968, nos Jogos Olímpicos da Cidade do México, com a instalação de cronómetros integrados em placas electrónicas sensíveis ao toque de cada nadador.


QUANTO TEMPO O TEMPO TEM?


Contudo, nada disto seria possível sem o trabalho pioneiro de um homem. Em 1821, Nicolas-Mathieu Rieussec, relojoeiro da corte francesa, regista a sua patente de um "relógio ou medidor de distância percorrida". Capaz de marcar o tempo em quintos de segundo, este pequeno engenho aplicava duas minúsculas gotículas de tinta no mostrador para registar cada intervalo de tempo. Duas décadas depois, com a invenção de um sistema de reposição do tempo a zero, o suíço Adolphe Nicole acerta as agulhas do último dos elementos fundamentais do moderno cronómetro.


Hoje, mais do que nunca, o cronómetro é o derradeiro juiz da aldeia olímpica, o decisor da diferença entre a alegria do bronze e a ausência da tão ansiada medalha, entre o sabor da impensável prata e um corriqueiro terceiro lugar no pódio. Mas, mesmo nestes tempos vividos em fracções de segundo mais rápidas do que um piscar de olhos, ainda é possível conseguir-se o aparentemente impossível, como testemunha este espantoso vídeo. Pois a glória olímpica não tem forçosamente de contemplar apenas um vencedor."

(in Dicionário Digital)

Ouro duplo nos 50 metros livres em Sydney


3 comentários:

  1. Uma bela aula de história.
    Parabéns pelo artigo!

    Um abraço e bom final de semana

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  2. Nossa, Jorge, que texto histórico e informativo sobre a precisão do relógio! Adorei! Pois é, houve algumas controvérsias acerca dos resultados de Phelps. Eu, por exemplo, acho mesmo que essa sétima medalhas não foi muito devida. Enfim...
    Beijo carinhoso pra vc, amigão e tb não vejo a hora de os comentários do diHITT irem automaticamente para os blogs.
    Letícia.

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