Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.
Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:
Nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.
(António Gedeão)
Face ao comentário da autora do blogue vocefazobrasil.com - de quem não sei o nome porque mantém o anonimato, o que respeito - resolvi editar este artigo.
Não vou fazer, aqui e agora, mais considerações sobre diferenças da língua portuguesa, que me proponho fazer noutra altura, mas acrescentei um resumo biográfico do autor do poema:
Não vou fazer, aqui e agora, mais considerações sobre diferenças da língua portuguesa, que me proponho fazer noutra altura, mas acrescentei um resumo biográfico do autor do poema:
António Gedeão (1906 / 1997)
Poeta, professor e historiador da ciência portuguesa. António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho, concluiu, no Porto, o curso de Ciências Físico-Químicas, exercendo depois a actividade de docente. Teve um papel importante na divulgação de temas científicos, colaborando em revistas da especialidade e organizando obras no campo da história das ciências e das instituições, como A Actividade Pedagógica da Academia das Ciências de Lisboa nos Séculos XVIII e XIX. Publicou ainda outros estudos, como História da Fundação do Colégio Real dos Nobres de Lisboa (1959), O Sentido Científico em Bocage (1965) e Relações entre Portugal e a Rússia no Século XVIII (1979).
Revelou-se como poeta apenas em 1956, com a obra Movimento Perpétuo. A esta viriam juntar-se outras obras, como Teatro do Mundo (1958), Máquina de Fogo (1961), Poema para Galileu (1964), Linhas de Força (1967) e ainda Poemas Póstumos (1983) e Novos Poemas Póstumos (1990). Na sua poesia, reunida também em Poesias Completas (1964), as fontes de inspiração são heterogéneas e equilibradas de modo original pelo homem que, com um rigor científico, nos comunica o sofrimento alheio, ou a constatação da solidão humana, muitas vezes com surpreendente ironia. Alguns dos seus textos poéticos foram aproveitados para músicas de intervenção.
Em 1963 publicou a peça de teatro RTX 78/24 (1963) e dez anos depois a sua primeira obra de ficção, A Poltrona e Outras Novelas (1973). Na data do seu nonagésimo aniversário, António Gedeão foi alvo de uma homenagem nacional, tendo sido condecorado com a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago de Espada. ( Fonte: As Tormentas )
Revelou-se como poeta apenas em 1956, com a obra Movimento Perpétuo. A esta viriam juntar-se outras obras, como Teatro do Mundo (1958), Máquina de Fogo (1961), Poema para Galileu (1964), Linhas de Força (1967) e ainda Poemas Póstumos (1983) e Novos Poemas Póstumos (1990). Na sua poesia, reunida também em Poesias Completas (1964), as fontes de inspiração são heterogéneas e equilibradas de modo original pelo homem que, com um rigor científico, nos comunica o sofrimento alheio, ou a constatação da solidão humana, muitas vezes com surpreendente ironia. Alguns dos seus textos poéticos foram aproveitados para músicas de intervenção.
Em 1963 publicou a peça de teatro RTX 78/24 (1963) e dez anos depois a sua primeira obra de ficção, A Poltrona e Outras Novelas (1973). Na data do seu nonagésimo aniversário, António Gedeão foi alvo de uma homenagem nacional, tendo sido condecorado com a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago de Espada. ( Fonte: As Tormentas )
oiii!!!
ResponderEliminarSó tenho uma ressalva
a palavra "preta" não sei se foi sua intenção mais acho que esse termo soou ofensivo como foi colocado.
bjs...bye!!!
Obrigado pelo comentário.
ResponderEliminarO poema não é meu. É de António Gedeão, um dos grandes poetas portugueses do século XX.
A palavra "preta" nada tem de pejorativo em Portugal. Pelo contrário, "negra" é ofensivo sim.
E não só aqui em Portugal. O termo "negro" em Angola também é insultuoso, enquanto que preto não é.
Coisas da língua portuguesa quando tratada em países distintos.
Aliás se ler bem a última quadra verá que "nem sinais de negro, vestígios de ódio...". É aí que está a chave da mensagem do poema.
Já agora, para ver mais sobre a originalidade dos termos usados por nós portugueses e por vcs brasileiros, lei o meu artigo em
http://www.pontoblogue.com/2008/04/acordo-ortogrfico.html
Bjs
Jorge
E já agora "Lágrima de Preta" é mesmo o nome com que o autor designou o poema.
ResponderEliminarClaro que conhecia este Poema do António Gedeão, mas é sempre uma benção quando se o relê sem contar.
ResponderEliminarObrigado.
È lindo o poema, e não vêjo nada de racismo, muito pelo contrário, talvez seja mesmo para fazer-mos uma reflexão acerca do tema.
ResponderEliminarQuêm estará a ser racista? É só ler com atenção...
Ana Moreira
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarRealmente a palavra "preta" enquanto origem, nada tem de errada, o problema é que, no nosso e em muitos outros países onde os pretos representam uma minoria, quando dirigida a alguém é normalmente de forma pejorativa. Obviamente, tem a ver com história, foram anos de inferiorização racial etc.
ResponderEliminarÉ normal e acontece principalmente em países com um historial de comflitos inter-raciais.
Se formos para a Angola por ex, e chamarmos um branco de "branco", com um ar de desdém, este ficará obviamente ofendido.
Penso que era a barreira do sentido pejorativo da palavra "preto", que o autor do poema estava a tentar quebrar. Usando a palavra "preta" num poema que enaltece a raça.
É realmente um poema fantástico. O Jorge foi muito feliz neste post. Em relação à expressão "Preta" também não vejo sentido nenhum de racismo, como a Lislinda disse, o sentido que as pessoas dão à palavra só se trata de história. Não compreendo porque é que o povo diz ter evoluido tanto nestas últimas décadas e continua a ser tão injusto na forma como tratam estas pessoas. LARGUEM O PASSADO E ABRAM OS OLHOS. SÃO PESSOAS IGUAIS A NÓS. NÃO É POR TEREM UM TOM DE PELE DIFERENTE QUE SÃO MENOS QUE NÓS. DEIXEM DE OS INSULTAR, ELES NÃO TÊM CULPA DE TEREM ESTE TOM DE PELE.
ResponderEliminarDesculpem a postagem tardia, mas só hoje descobri o blog...procurando imagens para ilustrar um material sobre Mecânica dos Fluidos(tensão superficial e quejandos...)Tanto o poema quanto a fotografia são maravilhosos; quanto às conotações que se possam dar aos termos preto e negro varia muito de quem fala e como fala - eu, na qualidade de baiano, adoro quando uma pessoa de quem eu gosto me chama carinhosamente de "meu preto", mas gosto também que me digam "ai negão". Ademais, para aumentar o leque de opções temos duas artistas emblemáticas: Preta Gil e Negra Li; a ai, como é que fica? Claro que se o Bolsonaro me chamar de preto ou de negro vai ser perjorativo da mesma forma, né não neguinhos?
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