O Director-Geral de Saúde, Dr. Francisco George, apelou ontem para que os utentes só se dirijam às Urgências Hospitalares em caso de "necessidade absoluta".
Este conceito de "necessidade absoluta" é demasiado subjectivo para que se possam definir os seus correctos parâmetros.
É um facto que, ao longo de muitos anos, assisti doentes no Serviço de Urgência que, como médico, diria que não tinham necessidade de recorrer àquele Serviço. Porém, do ponto de vista do doente/utente (detesto a palavra utente) as coisas não eram bem assim.
A rotulação de "falsa urgência" é sempre feita a posteriori e por quem está do outro lado da barricada.
Vejamos exemplos:
1 - A pessoa que sente uma dor no peito, que se estende ao braço esquerdo, pode pensar (e com razão) que está a fazer um enfarte e dirige-se ao hospital mais próximo. Falsa urgência, porque era apenas uma dor muscular com electrocardiograma e enzimas normais.
2 - Um indivíduo, na rua, torce um tornozelo. "Ah isto passa !!! Água quente com sal". Errado. Até pode ter feito uma rotura de ligamentos, ou mesmo uma fractura maleolar, que impõe uma imobilização de urgência. Quantas nos aparecem 15 dias depois do tal tropeção na rua...
3 - Uma "dor aguda de estômago" com vómitos. "Tem calma. Isto passa com um cházinho...". Já vi aspirar mais de dois litros de chá de poejo da cavidade abdominal e o doente acabar por morrer com uma peritonite. Tinha uma perfuração de úlcera gástrica.
É certo que os Serviços de Urgência hospitalares têm uma percentagem muito grande de casos que não justificariam (e digo justificariam, no condicional) um recurso a serviços desta índole mas que, de alguma forma, não devem prescindir de uma observação médica, por vezes até especializada.
E qual é a opção da pessoa que se sente mal ?
Diz o Dr. Francisco George que a pessoa "deve procurar o seu médico de família ou assistente". Onde? Quando tem a possibilidade de obter uma consulta?
Ou "telefonar para a linha Saúde 24". Ponho as maiores reservas quanto à eficácia dessa linha telefónica. Quem está do outro lado? Um médico? Mesmo que assim fosse não me parece que uma "consulta telefónica" possa dar garantias mínimas de qualidade.
Em minha modesta opinião, o que os sucessivos governos deste país têm andado a fazer é desinformar as pessoas procurando que os serviços de saúde, insuficientemente dotados de pessoal e meios, sejam menos procurados e, consequentemente menos responsabilizados.
Acho que, neste caso das "falsas urgências hospitalares" se está a tentar atribuir as culpas à vítima, para limpar a face do verdadeiro "criminoso".
Essas coisas também acontecem aqui. Há algum tempo, em minha cidade, havia um cartaz no pronto socorro dizendo que devido a falta de recurso e de médicos plantonistas era para as pessoas só procurarem o pronto socorro em casos graves, mas como saber se é grave ou não.
ResponderEliminarPrezadíssimo amigo;
ResponderEliminarCompreendo perfeitamente as suas palavras neste texto, mas você sabe que as emergências são sobrecarregadas por pessoas que não tem absolutamente nada. Muitos vão para fofocar, ver outro ambiente, espreitar a desgraça do outro, etc, etc. Óbvio que existem aqueles que tem doença clara ou até mesmo mascarada.
Aqui no Brasil é um Caos.
Acho que como opção deveríamos fazer como a Itália que cobra a ida desnecessária do paciente ao pronto socorro. Mas se for atendido por uma urgência real o serviço é gratuito.
Um grande abraço, e dê uma olhadinha no meu blog, nas minhas impressões. Ficaria orgulhoso em ter meu blog na sua lista
A sua leitura, Jorge, á a leitura séria de um profissional.
ResponderEliminarO resto são poeiras...
Há cerca de dois meses atrás, quando a minha mãe que tem 87 anos foi atropelada e partiu o pulso direito, eu preferi assumir as despesas e levá-la à urgência de uma clinica privada. Tenho uma péssima experiência de hospitais. A minha filha entrou nas urgências quase com uma peritunite esteve tempos esquecidos para ser atendida, tive que telefonar a uma amiga minha que é médica, ela apareceu e em pouco mais de uma hora a Catarina estava na sala de operações. Ficou-me para nunca mais
ResponderEliminarDor de barriga pode ser grave, a minha filha podia ter morrido, mas só depois é que se aperceberam.
Pois olhe, Mikasmi, quando eu morava em Lisboa dizia muitas vezes: por favor, se algo de grave me acontecer, levem-me para as pulgas, percevejos e baratas de S.José.
ResponderEliminarAgora que já não moro lá, costumo dizer que, se me acontecer alguma coisa grave, me levem para as urgências de um hospital público.
E, como diz o João, fala o profissional.
O problema da sua filha deve ter sido por causa da tal "Triagem de Manchester" agora em uso. Isso é outra coisa de que um dia, se tiver tempo e disposição, eu falarei.
Continuamos a ser um país de importação de bons figurinos, mas a linha que cose o pano não presta.
Querido Jorge, belíssimo texto Amigo, mesmo em cima do acontecimento... Parabéns!... Um grande abraço de carinho,
ResponderEliminarFernandinha
E não seria melhor todos tirarem o curso de Medicina (vá lá, os 6 anitos do básico...) para poderem determinar se a sua situação é uma verdadeira urgência, poupando assim essa maçada das "falsas urgências" que tanto transtorno dão aos hospitais e ao senhor dgs (salvo seja...) ?...
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