terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Viagem pelo mundo lusófono (5) - Moçambique


Depois de uma guerra de libertação que durou cerca de 10 anos, Moçambique tornou-se independente em 25 de Junho de 1975, na sequência da Revolução dos Cravos, a seguir à qual o governo português assinou com a Frelimo os Acordos de Lusaka. Após a independência, com a denominação de República Popular de Moçambique, foi instituído no país um regime socialista de partido único, cuja base de sustentação política e económica se viria a degradar progressivamente até à abertura feita nos anos de 1986-1987, quando foram assinados acordos com o Banco Mundial e FMI. A abertura do regime foi ditada pela crise económica em que o país se encontrava, pelo desencanto popular com as políticas de cunho socialista e pelas consequências insuportáveis da guerra civil que o país atravessou entre 1976 e 1992.
Na sequência do Acordo Geral de Paz, assinado entre os presidentes de Moçambique e da Renamo, o país assumiu o pluripartidarismo, tendo tido as primeiras eleições com a participação de vários partidos em 1994.

Moçambique é reconhecido por seus artistas plásticos: escultores (principalmente da etnia Makonde) e pintores (inclusive em tecido, técnica batik). Artistas como Malangatana, Gemuce, Naguib, Ismael Abdula, Samat e Idasse destacam-se na área de pintura.

A música de Moçambique é uma das mais importantes manifestações da cultura deste país. A música tradicional tem características bantu e influência árabe principalmente na zona norte e, como tal, é normalmente criada para acompanhar cerimónias sociais, principalmente na forma de dança.
A música comercial tem raízes na música tradicional, mas muitas vezes usando ritmos e tecnologias importadas de outras culturas. Um dos tipos de música comercial mais conhecidos é a marrabenta, originária do sul do país, que não é apenas música de dança, mas tem frequentemente uma letra com grande conteúdo social.
A timbila chope, um instrumento musical tradicional, foi considerado pela Unesco, em 2005, Património Imaterial da Humanidade.

José João Craveirinha (Lourenço Marques, 28 de Maio de 1922 – Maputo, 6 de Fevereiro de 2003) é considerado o poeta maior de Moçambique. Em 1991, tornou-se o primeiro autor africano galardoado com o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa.

Mia Couto (Beira, 1955) é um dos escritores moçambicanos mais conhecidos no estrangeiro. António Emílio Leite Couto ganhou o nome Mia do irmãozinho que não conseguia dizer "Emílio". Segundo o próprio autor a utilização deste apelido tem a ver com sua paixão pelos gatos e desde pequeno dizia a sua família que queria ser um deles.Nasceu na Beira, a segunda cidade de Moçambique, em 1955. Ele disse uma vez que não tinha uma "terra-mãe" - tinha uma "água-mãe", referindo-se à tendência daquela cidade baixa e localizada à beira do Oceano Índico para ficar inundada.

Massacrados por duas guerras (a de libertação e a civil) e por constantes catástrofes naturais, as cheias a provocar milhares de desalojados, os povos de Moçambique bem podem ser apelidados de "Os bastardos de Deus".

7 comentários:

  1. Me recordo da indepêndencia de Moçambique, mas com o tempo e outros interesses acabamos esquecendo desses acontecimentos,mas com sua matéria, temos novamente fatos e a realidade sobre este povo lutador.
    Um abraço

    ResponderEliminar
  2. Feliz año nuevo Jorge, para tí y para todos tus lectores. Espero que el año que estamos a punto de empezar multiplique por dos todo lo bueno de este que se va :)

    ResponderEliminar
  3. Moçambique é fantástico. Maputo uma cidade espectacular. Pena estar um pouco abandalhada. Até agora de toda esta viagem fantástica ao mundo lusófono (só não conheço Timor) recomendo Cabo Verde, pela diferença e pelas pessoas e São Tomé e Príncipe, pelas belezas naturais. Um excelente ideia, Jorge. Bom 2009!

    ResponderEliminar
  4. Moçambique, terra mágica.
    JORGE, a sua produção é muito boa.
    O previsto sucesso está à vista. Parabéns.

    ResponderEliminar
  5. Tenho um colega moçambicano, jornalista como eu, que me perguntou quando irei visitar o país dele. Disse que quando tivesse dinheiro e um tempo sobrando. Vendo as belas imagens desse agradavel país, a minha vontade só aumenta de um dia aportar por lá.

    ResponderEliminar
  6. Vivi, e vivo, com a independência de Moçambique. A minha adolescência, e a de tantos outros jovens, rasgou-se e como eramos muito jovens ainda tivemos de acompanhar os nossos pais para onde eles fossem. Eu vim para Portugal. Voltei a África, Angola, em 1981, vivi na Ásia e só reencontrei alguns amigos 30 anos depois graças à net pois estamos espalhados pelo Mundo. Porque foi assim? Porque tudo teve de ser assim? Ainda hoje não sei....como também não sei porque razão Mia Couto num texto autobiografico põe de rastos a Beira, minha cidade natal, e do meu pai, as minhas raízes e a nossa já então vivida "globalização"...um texto autobiografico que a minha filha, de 15 anos, trouxe da escola para comentar e escandalizada pergunta-me: Mãe fazias isto na Beira?
    E reza o texto:
    [...] A Beira era uma cidade muito conflituosa porque a fronteira entre os brancos e os negros era uma fronteira muito misturada, muito "atravessada". E eu recordo-me - toda a minha infância é uma infância de viver no meio de negros, brincar, com eles, os meus amigos, as pessoas que eu posso referenciar da minha infância, com a excepção dos meus irmãos e mais alguns, todo o resto é uma infância toda vivida ali.
    [...] Vivemos em quase todas as partes da Beira. O meu pai mudava constantemente de bairro. Mas era constante essa mistura. Porque a Beira é uma cidade conquistada ao pântano. Então, à medida que era possível secar uma região e construir casa de cimento isso fazia-se. Mas estavam lá as casas dos negros locais. Então, sempre do outro lado da rua havia africanos com casa de caniço. Não tanto esta arquitectura arrumada, de urbanização feita com plano, como aconteceu em Lourenço Marques. Vivi muito nessas zonas suburbanas, periféricas.
    [...] Os brancos da Beira eram profundamente racistas. Quando eu saí da Beira para Lourenço Marques, em 1971, parecia-me que estava noutro país, porque na Beira havia quase apartheid em certas coisas. Não podiam entrar negros nos autocarros, só no banco de trás... Enfim, era muito agressivo. No Carnaval os filhos dos brancos vinham com paus e correntes bater nos negros... Recordo-me duma história: eu tinha um senhor que me dava explicações de matemática, privadas, e ele era pai dum coronel que tinha feito um massacre em que tinham sido mortos 125 ou 130 camponeses. E ele tinha fotografias do massacre dentro de casa, como uma glória! Eu só andei uma semana naquelas explicações. Nós chamávamos-lhe o "Bengalão", porque ele tinha uma bengala grande, e quando começava a sessão de estudo ele mandava sair as mulheres - as meninas - e ficava só com rapazes, e dizia: "Cuidado, porque o pretinho está-nos a ouvir, é preciso impedir isso. Na escola eu tenho que baixar as notas dos negros para eles nunca ficarem à vossa frente, vocês têm que me ajudar nesta luta..." - e aquilo era uma coisa que para mim soava horrível.
    [...] Eu guardo na minha infância, assim, uma coisa muito esbatida, um ponto de referência, as histórias que me eram contadas, dos velhos que moravam perto, vizinhos do outro lado da rua, de um outro mundo, e eu recordo esse mundo encantado até algumas histórias, sobretudo como eles me deixaram uma marca.

    Se a infância deste senhor é esbatida, como ele próprio o refere, a minha é viva e tem cores, muitas cores....todas as cores....e destas histórias, das dele é que eu não me lembro - nem com esforço - nem eu e nem os outros, que como eu lá viveram até 1975, incluindo a neta do "Bengalão". Mas não foi por isto que aqui entrei e sim porque não pude ver o post e a pergunta é poderei ver? Ainda está disponível? É que não consegui abri-lo. Parabéns pelo seu blog.

    ResponderEliminar
  7. Aqui estou de novo afinal consegui ver devia ser algum problema da net. Adorei as imagens e a música e aproveitando o calor que de lá recebi um bom ano 2009.
    obrigada,

    ResponderEliminar